Muita gente aponta o dedo ao "empregador", ao "chefe", como se fosse o chefe a ter culpa da crise e como se o chefe gastasse os dinheiros da empresa.
Por norma, não o fazem. Não é justificável a nível financeiro na contabilidade. Apesar de a ideia e o investimento ter sido do próprio.
Eu sou "chefe" de um negócio e sou empregada noutro. E é no de empregada que recebo mais e onde mato menos a cabeça.
Pois bem, na firma da qual sou gerente, não há dia em que não vá para a cama deitar a cabeça para dormir em que não pense:
- tenho as licenças dos computadores para pagar.
- as contas da luz e de água, de tarifa comercial - mais cara - para pagar.
- a renda... e a retenção da renda.
- a contabilidade
- tenho que organizar os livros de obras.
- não me posso enganar nas contas dos ivas e tenho que reunir despesas.
- tenho que pagar o livro de actas. Tenho que fazer a m**** das actas.
- não me posso enganar na certidão comercial senão são "só" mais 478 euros para uma alteração.
- o contrato com as telecomunicações está a acabar, tenho que renegociar isso.
- se vem uma fiscalização da "medicina do trabalho" estou f*****. Mais uma niquice sem jeito nenhum para se pagar só para confirmar se "estou ok ou não." ..."e olhe que a multa são 600 euros". Estes comerciais são muito queridos em vir cá para me assustar.
- se vem a Asae estou f*****. Porque não tenho extintores. Nem projecto de fuga. Nada. Tenho uma sala, uma wc, uma secretária, livros, dois pcs, uma impressora e a porta para a rua. Vou querer gastar mais dinheiro num projecto de incêndios? ...
E, a dolorosa.
Ter um funcionário. Sempre fui mal paga em gabinetes. Sempre. Mas eu nunca gostei que se trabalhasse de borla. Sei que um ordenado mínimo não dá para viver. Então, a única funcionária que contratei de 1º emprego ganha 650 euros, com contrato, com seguro de saúde e tem subsídio de férias. Não recorri a estagiários. O subsídio de férias, para não custar tanto numa época em que me vejo grega para ter o que fazer a nível de projectos, é dividido pelos meses todos. Ao menos recebe-o. Ao menos o ordenado mensal sobe.
O que o pessoal crítico não sabe, é que para que ela receba 650-680 euros, eu pago 880 euros no total. Ou seja, o pessoal não mete na cabeça que o ordenado que se paga a um funcionário não é o que ele recebe. É quase 25% mais.
Não me venham dizer que isto da segurança social só é prejudicial para o funcionário. É pois claro. Mas e para o empregador? Que vou descontar mais. Que ela não vai saber (ou não tem noção), que também vou desembolsar mais dinheiro "que ela não vê". Como se vai esperar que as pessoas tenham o mesmo rendimento a receber menos como trabalhador e a ser um empregado que dá mais despesas? Tudo isto me estão a fazer ver os recibos verdes como uma melhor opção até. Tanto para mim que já declarei gerência sem vencimento, porque efectivamente não consigo sacar dois ordenados "legais", como para ela.
É triste.
E depois vejo-me do outro lado, como funcionária. Vou lá, pico o ponto, até me divirto e chego ao fim do mês com o ordenado na conta ao dia certo. Bem pago face ao que se vê em redor. Sem custos extra, sem preocupações com as finanças. Sem preocupações com nada a não ser fazer o meu trabalho.
Um conselho meu?
Não abram empresas em Portugal. Não vale a pena. Ficam judicialmente e fiscalmente obrigados a pagar uma data de porcarias sem jeito algum. Façam o vosso trabalho em casa e passem um recibo. Descontam a vossa parte e não têm problemas.
"ah e tal Maria, estás a atrasar o país, assim não há negócios!"
...Eu?
Eu é que estou a atrasar o país? Em que apostei e abri uma empresa? E só recebi patadas e despesas fiscais para pagar?
Não. O país é que me atrasa a mim que tento gerar dinheiro e que me cobram aos 50 euros de multas por não conseguir pagar a segurança social e as retenções ao dia certo porque não há dinheiro na conta de empresa.
Eu não me importava de descontar 40% de um bom ordenado na Dinamarca.
- Em que as pessoas têm vergonha de estar desempregadas.
- Em que as pessoas têm vergonha de receber e viver do fundo de desemprego.
- Em que as pessoas têm que aceitar o primeiro emprego a aparecer no centro de emprego senão perdem o fundo de desemprego. E não se importam de trabalhar!
- Em que a escola é gratuita e os livros reutilizados de ano para ano.
- Em que se trabalha cedo, a horas e de calças de ganga e polo porque o que conta é o trabalho.
- Em que se entra às 8h da manhã, come-se uma sandes em 15m e sai-se às 4h da tarde com tempo para ir ao cinema, jantar, fazer desporto. (isto é que faz correr a economia!)
- Em que existe uma coisa chamada "pontualidade" mesmo que se ande de bicicleta ou de metro.
Nós (na generalidade), somos uns pobres snobes com a mania que somos vips ou ecléticos. Todos os dias cada um no seu carro. Cada um com o seu maço de tabaco. Ainda conseguimos chegar atrasados a reuniões mas ao menos num fato Massimo Dutti. Precisamos de duas horas de almoço e temos o último i-coiso e vamos aos festivais todos de Verão, mas ao dentista não "porque é muito caro". Somos um país de snobes que ganham 450 euros mensais mas têm o status de quem ganha 1500 euros.
Estou desiludida com o país. E com a generalidade dos trabalhadores e patrões. E com a caixa de correio que todos os dias me avisa - a Maria patroa - que tenho uma merdice qualquer para pagar e da qual não encontro o menor sentido e necessidade.
E do outro lado tenho as multinacionais que me chamam e dizem: Anda Maria. Nós trabalhamos no duro mas recebemos. Sai de Portugal. Pega no teu homem e vem pra Primark na Irlanda, ou no Reino Unido...qualquer lado. Menos aí.
É triste. Mas é a verdade. Estamos a poupar para isso.
Lamento a linguagem, mas esta é a verdade pura e crua. Mas infelizmente o nosso país sustenta é ciganos, drogados e pessoas que metem falsas baixas. E os que detesto mais: os coitadinhos que não querem trabalhar.
E do outro lado tenho as multinacionais que me chamam e dizem: Anda Maria. Nós trabalhamos no duro mas recebemos. Sai de Portugal. Pega no teu homem e vem pra Primark na Irlanda, ou no Reino Unido...qualquer lado. Menos aí.
É triste. Mas é a verdade. Estamos a poupar para isso.
Lamento a linguagem, mas esta é a verdade pura e crua. Mas infelizmente o nosso país sustenta é ciganos, drogados e pessoas que metem falsas baixas. E os que detesto mais: os coitadinhos que não querem trabalhar.
Como eu concordo contigo!
ResponderEliminarObrigada, Maria, por este texto!
ResponderEliminarNão podia concordar mais contigo! Cada vez mais tenho vergonha deste país...
ResponderEliminarLaura
Dou-te toda a razão, o patrão também sofre, mas obviamente que com esta menina saiu beneficiado. Isso é indiscutível.
ResponderEliminarComo te compreendo. As coisas por cá estão cada vez piores.
ResponderEliminarAgora é que disses-t tudo ...
ResponderEliminarUfa! não fazia ideia que era «boss»!! eu vejo pelo meu namorado, abriu empresa e é igualzinho! preocupações a triplicar...
ResponderEliminarForça!
Grande mulher sem papas na lingua! é isso mesmo sem tirar nem por
ResponderEliminarGrande mulher sem duvida...quem diz as verdades nao merece castigo
ResponderEliminarBeijo e visita o meu espaço pois tenho um post novo